Ele cozinhou como se fosse a última vez. Cortou a carne em cubos, separou os temperos, escolheu as batatas, lavou o arroz e apanhou as melhores panelas da casa. Fez tudo com muito gosto. Concentrado. Medindo cada dose. Aquecendo em fogo baixo e deixando o cheiro exalar pela casa inteira.
Preparou o suco e foi arrumar a mesa. Apagou o fogo. Entrou no banheiro e se banhou. Depois de dez minutos na água fria, foi jantar. Pôs-se à mesa e olhou para cada comida. Sorriu e se serviu. Sozinho. Sem música, sem vozes, sem telefones tocando.
A janta era toda dele.
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- Mãe, já são mais de oito horas, estou com fome!
Disse o menino esticando a blusa e com os olhos vermelhos de sono.
Mas Rosa não tinha apetite ainda. Queria esperar o marido chegar. E não importava como chegaria. Bêbado, sóbrio, mudo ou sorridente.
Ela fizera o prato preferido dele: arroz carreteiro e filé mal passado. Deu trabalho!
Deixou os meninos na casa da irmã e passou a manhã no mercado. Escolheu todos os ingredientes. Cozinhou lembrando dos doze anos juntos.
Na comida, sorrisos e lágrimas. Mais lágrimas. De felicidade, de raiva, de medo, de esperança, de rancor. Ela preparou tudo e o esperou. Não deixou ninguém tocar na comida. A fome das crianças não a importava.
Naquela noite, ela só queria que ele chegasse.
Era uma quinta-feira. Fazia calor. E o calendário da cozinha datava o dia 23 de agosto de 2001.
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Enxotou as amigas do apartamento. Arrumou a sala, passou o vestido novo e foi para a cozinha. Não sabia o que poderia preparar. Macarrão? Risoto? Panquecas? Delivery?
Olhou o molho de tomate preparado, conferiu as horas e escolheu o macarrão.
Fez tudo rápido. Deixou a tampa da panela cair, derramou molho na toalha de mesa, deixou a cebola queimar no óleo quente e entre os palavrões, sorria.
Aprontou tudo, checou o vinho e foi se arrumar. Vestido, batom, perfume.
O interfone tocou. Ela mandou subir.
O jantar já estava servido. Mesa para dois.
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- Passa o arroz.
- Quer refrigerante?
- Essa é a cadeira do teu avô, senta na outra.
Dois galetos, uma panela de arroz, feijão requentado, saladas, bolinhos de bacalhau, ovos cozidos, farofa, suco e refrigerante. A mesa estava farta. Tio Augusto veio de São Paulo. Avô, avó, tios, tias, crianças e cachorro.
A toalha já estava suja, o bebê virou o copo descartável e banhou a mãe.
A prima adolescente decretou que a louça não era com ela e o garanhão não desgrudava do celular.
Hoje a janta vai ser divertida!
Pobre da tia solteira, que só vai olhar e fingir sorrisos sinceros.
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