20120430

Desconexo

Calendário que não segue lei.
Quarta vira sexta.
Sábado, segunda.

Fuga da vida real.
Manhãs que eram noites.
Tardes, madrugadas.


Dias de regras quebradas.
Erros eram acertos.
Correção, pensamento.

Calendário que não segue lei.
Incontrolável desejo.
Prazer desconexo.

20120330

Voltas

Muda, muda. Muda vida.
Semana de volta, semana de ida.
Volta mundo. Volta vida.
Dia de chegada, dia de partida.

20120221

Chá

Ela caminhou por várias ruas na sua cidade nova. Olhou os jardins, reparou nos telhados das casas e como as calçadas eram limpas. O lugar parecia perfumado. Sentia isso a cada respiração mais funda.
Quando a noite caiu, ela encontrou uma Casa de Chás. Um lugar quase no meio do nada, no final da rua. Entrou.
Acomodou-se em uma das três mesas que lá havia. Logo, um rapaz alto, magro e com a barba feita chega.
- A senhora aceitaria uma xícara de chá?
- Qual chá?
- Temos chá de querência, para os quereres da vida. Chá de carinhos, de flores raras que afagam os corações carentes. Chá de sorriso, que faz os lábios se esticarem e melhora a aparência. E...
- Quero todos!
- A senhora deseja aproveitá-los como?
- Como?
- Digo, como deseja seus chás? Hoje, amanhã, no dia primeiro ou um em cada mês do ano?
- ... Bom, traga-me apenas um chá de sorrisos.
- Boa escolha. Reparei que a senhora possui o sorriso mais bonito dessa noite.
- Obrigada, rapaz.
- Por nada. O chá está saindo.

20111226

Hábito

Eu abro a janela.
Você sai pela porta e desce a escada.
Eu arrumo a cortina e logo te enxergo.
Você me vê mas não me olha. Entra no carro e vai embora.
Vai ser sempre assim.
Desconforto, silêncio, desamor.
Não há ódio.
Só não há vontade.

CATEGORIA: Rotina

20111204

Que piranha!


- Ela abaixou a calcinha e disse: vem. Aí, já viu.
- Mas que safada! Ele te disse isso mesmo?
- Isso. Sem-vergonhice pura.
- Menina. Eu sabia que ela não prestava mas isso já é demais.

Elza contava à Carmen o que havia acontecido há um mês, quando Júnior começou a sair com Nice. As vizinhas compartilhavam as informações, levantavam suspeitas e aumentavam versões. Há muito tempo esperavam uma bomba dessas. Só para poderem ter o que falar de Nice. A moradora mais nova da vila que sempre chegava de táxi e saía de salto para o trabalho.

Num domingo, quando elas caminhavam até a igreja para ir ao culto, Elza viu Júnior sair do bar sorrindo. Mil e uma caraminholas surgiram em sua mente. Nem prestou atenção nas palavras do pastor. Chegou em casa e foi logo perguntar ao primo o motivo de tanta alegria às sete da manhã de um domingo.

- Felicidade lá escolhe hora? Me deixa dormir.

Encucou. Foi até a casa de Carmem tentar saber o que tinha para o almoço e também para imaginar verdades. Júnior não era de virar a noite assim. Trabalhava, estudava e só tinha dezenove.

Bem mais tarde, Elza soube o que acontecera. E foi pela própria boca de seu primo.

- Sabe aquele dia que eu saí do bar de manhã, num domingo? E tu foste me acordar depois pra saber o que tinha acontecido?
- O que tem?
- A Nice chegou lá de noite. Comprou cigarro, tomou umas cervejas e ficava cantando algumas músicas que estavam tocando. Ela estava sozinha. De vez em quando descruzava as pernas e dava pra ver a calcinha. Todo o mundo ficava olhando. Depois de um tempo, ela levantou e foi falar comigo. Perguntou a minha idade e riu que só quando eu respondi. Ela saiu de perto e parou de beber. Ficou na porta do bar. Deu duas, deu três da manhã. Um pessoal já tinha ido embora. E eu já estava cansado. Cheguei na porta pra sair e ela me parou. Me puxou até o banheiro.
- Na frente de todo o mundo?
- Tinha umas três pessoas que nem eram daqui.
- E aí?
- A gente ficou. No banheiro. Ela abaixou a calcinha e disse: vem.

(...)

Pausa para o espanto de Elza. Ela disse que não queria mais saber da história e nem por decreto imaginaria a cena. Era pecado, e dos graves. Por isso mesmo teve raiva. Não de Júnior por ter se entregado ao "erro". Mas de Nice. Bonita, cabelo cheiro de frutas, boca grande e um quadril que todos os homens olhavam.

Elza teve raiva daquela mulher que fazia mal ou bem, depende do grau de prazer ou arrependimento. Ela teve raiva de Nice por Nice poder fazer o que bem queria, onde e como quisesse. Elza não. Vai ver ninguém nunca quis fazer tal safadeza com Elza.

Correu e foi contar à Carmem.

(...)

- E ela abaixou a calcinha e disse: vem. Aí, já viu.
- Mas que safada! Ele te disse isso mesmo?
- Isso. Sem-vergonhice pura.

CATEGORIA: Imaginação