20111012

Mais uma

Era gorda. Era feia.
Não ligavam para as suas vontades.
Não perguntavam por suas paixões.

Juliana só queria um sapato preto. Poderia até ser usado, mas tinha de ser preto. E de salto.Talvez crescer alguns centímetros nas festas de fim de ano apaziguaria a evidente beleza descartada de seu corpo. Talvez o preto realçasse seus pés. E insistia: preto, preto e de salto. Foi nas lojas mais baratas da cidade, pediu para as primas ricas e conseguiu um, usado e feio. Mas gostou.

Era tímida para a seriedade, mas desbocada para a distração. Juliana não teve pai. Não fez cursos nem lia livros, e roupa alguma lhe caía bem. Pouco importava. Nunca saía de casa para caçar homens. "Eu, me meter com esses homens daqui, credo!"

Passava as tardes sentada numa cadeira em frente de casa. Olhava toda a vizinhança passar. Ela ria da vida dos outros, olhava as coisas dos outros. Ninguém olhava por ela. Apenas riam de sua imagem. Era feia. Era gorda.

E até hoje não descobri o que fazer para Juliana ser feliz.

CATEGORIA: Verdade Ilusória

20111008

Amadurecer

Querer. Experimentar. Gostar. Errar. Sofrer. Aprender.Crescer.
É o ciclo natural da vida, mon cher!
Pra você, pra mim e para toda a torcida do Fluminense.

CATEGORIA: Rotina

20111005

A verdade

Finais felizes são para maricas! Tenho dito tais palavras desde que me entendo por homem. E não por menos. Só de ver minha mãe eu já entendia o romantismo como algo idiota. Coisa de mulher que pensa que o homem ama. Mas não. Homem não ama. A gente tem mesmo desejo, vontade, tesão, libido. Apertar os peitos de uma boa pequena, tirar o batom vermelho do beiço e sentir o gosto, satisfazer-se. Porque romance é mal do século. É motivo pra depois querer chorar. É saco de pancadas.
E enquanto ela chorava pelos cantos, o bar estava cheio daqueles machos se embebedando da cerveja mais vagabunda do bairro, escarrando, coçando e proferindo palavras indecentes a qualquer moça que por lá passava. Só queriam sexo. Como hoje, é apenas o que queremos.
Não se engane, moça. Nem se ele disser que está apaixonado. Nem se ele casar e chorar ao vê-la parir o primogênito. Na cama, ele dorme pensando em outra. Sorte será se ele te enganar com perfeição, o que geralmente não acontece. Porque, além de não amar, homens são tolos.
Moça, mais uma vez lhe advirto, seu amado homem é homem. E, assim como eu, não ama. Por isso, apenas dê a ele o que deseja.

Roberto da Cruz, 57 anos.

CAREGORIA: Mentiras Sinceras

20111004

A moça do café

Ela tinha olhos verdes. Reparou muito bem reparado. Foi somente pedir um café preto, pequeno, para espantar a preguiça do dia. Ainda usava óculos escuros e uma bolsa tiracolo marrom. Pediu o café e esperou. Ao receber, atentou para a moça que o serviu. Olhos verdes, rosto pálido. Ele pegou o café e permaneceu olhando a moça. Ela serviu e sequer levantou o olhar. Reprimida. Tímida. Desajeitada.

Ele quis ficar mas a tolerância do ponto não permitia. Olhou mais uma vez. Não tinha nome bordado no bolso do uniforme. Ninguém a chamava pelo nome. Não sabia como nunca havia reparado nela.

Foi embora e naquela noite, antes de dormir, pensou na moça do café.


CATEGORIA: Rotina