Era gorda. Era feia.
Não ligavam para as suas vontades.
Não perguntavam por suas paixões.
Juliana só queria um sapato preto. Poderia até ser usado, mas tinha de ser preto. E de salto.Talvez crescer alguns centímetros nas festas de fim de ano apaziguaria a evidente beleza descartada de seu corpo. Talvez o preto realçasse seus pés. E insistia: preto, preto e de salto. Foi nas lojas mais baratas da cidade, pediu para as primas ricas e conseguiu um, usado e feio. Mas gostou.
Era tímida para a seriedade, mas desbocada para a distração. Juliana não teve pai. Não fez cursos nem lia livros, e roupa alguma lhe caía bem. Pouco importava. Nunca saía de casa para caçar homens. "Eu, me meter com esses homens daqui, credo!"
Passava as tardes sentada numa cadeira em frente de casa. Olhava toda a vizinhança passar. Ela ria da vida dos outros, olhava as coisas dos outros. Ninguém olhava por ela. Apenas riam de sua imagem. Era feia. Era gorda.
E até hoje não descobri o que fazer para Juliana ser feliz.
CATEGORIA: Verdade Ilusória
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